um delírio madrepérola.






Primeiro álbum completo do projeto Píncaro.

Um Delírio Madrepérola é construído a partir de um espaço em branco na infância do compositor Roger Valença, constituindo-se como uma tentativa de reativar memórias tornadas indisponíveis por processos traumáticos.

O álbum investiga a composição enquanto anamnese, na qual o processo de lembrar se confunde com o processo de criar, e explora a música como uma maneira de reassociação entre afetos e representações da infância. O processo de composição figura como uma forma de produzir dispositivos imaginativos e autonarrativos e, consequentemente, de processos transformativos.

A investigação do álbum Um Delírio Madrepérola desencadeia no EP e na apresentação ao vivo intitulados DESVALENÇA. Em seu exercício de repetição – seja na regravação de músicas em versões alternativas, seja nas apresentações ao vivo –, DESVALENÇA exercita os atos psicanalíticos de recordar, rememorar e elaborar.

Finalmente, DESVALENÇA também propõe uma perspectiva de como a memória se organiza como discurso social. A performance ao vivo permite a criação de um espaço de comunhão temporária entre artista e plateia, onde testemunhos vindos de memórias distorcidas resultam em sons distorcidos, e, subsequentemente, em novas maneiras de se perceber a realidade.




"Um Delírio Madrepérola é um álbum sobre a memória, os bens e o sangue. Uma incursão aos anéis inferiores da consciência e uma acareação franca com o passado, minuciosamente revisitado num exercício de retrospecção. Longe de buscar uma resposta útil capaz de justificar o presente, as canções aqui percorrem os desdobramentos inexoráveis do destino.

Em Um Delírio Madrepérola, as imagens que Roger Valença mobiliza para dar corpo a seu relicário de memórias não provêm de uma casualidade fortuita. A prevalência de elementos calcários atravessa todas as composições e não deixa margem a dúvidas: madrepérola, marfim, mármore, etc., elementos rígidos que, se por um lado demandam tempo para sua conformação, tal como o passado refletido que nos constitui, emulam, por outro, o próprio esforço despendido na composição das músicas – o grau de sua profundidade, as linhas bem trabalhadas de seu violão e as metáforas elaboradas a que recorre são uma prova disso.

Não obstante, as imagens se adequam perfeitamente ao exercício de prospecção que Píncaro realiza acerca de suas origens, como um geólogo do tempo."

texto de Diego Scalada



Ficha técnica completa e áudio disponíveis aqui.